A despeito de Bin Laden e outras reflexões proibidas
“Eu dei a ordem!”. “Bin Laden está morto”. “A justiça foi feita”. “O mundo agora ficou melhor”... Que frases mais graníticas, cinematográficas. Por demais hollywoodianas, não viessem de um chefe de estado. Diz o professor José Cícero:
Um presidente tido como diferente e, pasmem, ganhador do Nobel da Paz. Isso mesmo: ? um pacifista que, na prática, tem escolhido o tempo todo a opção da guerra por meio da política beligerante do governo que dirige? Agora a pouco acaba de matar netos e filho de Kadafi na invasão que faz à Líbia.
Um Nobel da Paz fazendo uso da morte como solução de conflito. Então, como podemos perceber, esta diplomacia é do mundinho de faz-de-conta. Depois, como não desconfiarmos deles?
Em Ezequiel 18:23, a Bíblia registra: “Tenho eu algum prazer na morte do ímpio? diz o Senhor Deus. Não desejo eu antes que se converta dos seus caminhos, e viva?”
Nós, brasileiros devemos refletir bem para não nos deixar arrastar pela euforia estadunidense de comemorar a morte do chamado terrorista Osama Bin Laden, pois nem eles têm motivos para celebrar a morte de um homem, já que este fato somente estimula a conduta do ódio e da vingança, distantes da tolerância e da caridade propostas por Jesus, que também é considerado profeta do Islamismo.
Lendo Mateus 5:38-42 Jesus diz assim: (“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda; e ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa”)
O uso da força física, da opressão sobre os mais fracos, do controle econômico habilmente utilizados pelos nossos irmãos estadunidenses refletem o estágio de barbarismo de nossa sociedade. Pela propaganda ideológica nos filmes, músicas, gibis e outras formas de dominação cultural, costuma-se aceitar a ilusão de que os norte-americanos são os defensores da democracia mundial e que é legítimo o uso da violência como mecanismo de combate às “forças do mal”.
Diante destas preliminares, podemos fazer algumas reflexões:
- Se usamos a violência para combater “o mal”, também somos maus e não os mocinhos, como nos querem fazer crer nossos enganados irmãos estadunidenses;
- A mensagem do Evangelho não nos impede a defesa contra qualquer ameaça ao nosso bem-estar físico ou emocional, no entanto recomenda não usar dos mesmos recursos do adversário, ou seja, ensina-nos a tentar retribuir o mal com o bem;
Um Nobel da Paz fazendo uso da morte como solução de conflito. E o assassinato como saída para se acabar com o mal. Um democrata que não respeita o princípio da autonomia dos povos e, tampouco a soberania das nações livres e independentes do planeta. Então, como podemos perceber, esta diplomacia deste é de um mundinho de faz-de-conta. Depois, como não desconfiarmos deles? Que Bin Laden foi um louco, um terrorista cruel e perigoso todo mundo sabe. E o terrorismo um ato criminoso dos mais horripilantes. Mas o que todos talvez não o saibam, porque “eles” não dizem, é que Bin Laden se fez um grande terrorista sob a substancial ajuda e treinamento do exército norte-americano a partir dos 80 quando o utilizaram para combater os russos. Em resumo: um ex-aliado dos EUA. Talvez não o saibam que o seu assassinato foi efetuado agora para servir como objeto puramente eleitoral no sentido de salvar a reeleição de Obama, diante do seu baixíssimo rendimento governamental. O que é evidenciado pela queda da sua popularidade, provocada pela pífia gestão econômica e social com uma dívida de quase 14 trilhões de dólares (uma das mais altas do planeta), desemprego de 10% - o maior da média histórica -, além da perda de espaços geopolíticos por outras regiões do globo.
O que muitos talvez não saibam é que a família ‘Bin Laden’ manteve durante anos laços de amizades e transações comerciais na área de petróleo com o ex-presidente Bush. Portanto, tudo não passa agora de um grande espetáculo recheado de sensacionalismo midiático.
Em 28 de janeiro de 2002, o jornalista da CBS Dan Rather, revelou em sua emissora de televisão que em 10 de setembro de 2001, um dia antes dos atentados em Nova York e no Pentágono, Bin Laden foi submetido a uma hemodiálise em um hospital militar do Paquistão. Não estava em condições de esconder-se e nem de proteger-se em cavernas profundas.
Assassiná-lo e enviá-lo às profundezas do mar demonstra medo e insegurança, convertem-no em um personagem muito mais perigoso. A própria opinião pública dos Estados Unidos, passada a euforia inicial, terminará criticando os métodos que, longe de proteger os cidadãos, terminam multiplicando os sentimentos de ódio e vingança contra eles.
- Matar adversário não nos livra de sua interferência nociva, pois sua atuação pode continuar espiritualmente intensa e ele pode se tornar um mártir, indicando a ineficiência do assassinato como forma de se libertar de um inimigo;
- A força física e a opressão material são recursos de dominação passageiros, que atende a interesses imediatistas, sem trazer tranquilidade para o opressor, o qual sempre tem que ficar atento contra rebeliões e revoltas capazes de destituí-lo do comando;
- A força da tolerância, da cooperação amigável e do perdão possui infinitas possibilidades de gerar simpatia, conciliação e crescimento mútuo, por isso Jesus nos recomendou a brandura e a mansuetude, virtudes ativas em favor da paz coletiva e do entendimento entre os homens e os povos.
É lamentável que a maior potência econômica e militar do planeta ainda prefira usar sua força violenta, impositiva e vingativa, com o interesse de manter a hegemonia mundial, ao invés de usar sua capacidade de promover o desenvolvimento responsável, a solidariedade, a melhoria do funcionamento das instituições públicas, a cooperação tecnológica e o estímulo à autonomia dos mais fracos, condutas que irão, um dia, nos fazer alcançar a verdadeira civilização mundial e serão eficientes para inibir o surgimento e a ação de grupos extremistas.